By Leonardo Zelig
Depois de algumas reflexões nas últimas semanas, constatei que estou virando um mestre em small talk. Para aqueles que não estão familiarizados com a expressão, small talk é uma espécie de conversa fiada que indivíduos apelam só pra não dar vazão a silêncios constrangedores entre seus semelhantes. Os casos mais comuns são: “Putz, como tá quente,né?” ou “Brasília tá tão seca nessa época do ano...”.
O small talk é amplamente utilizado em elevadores e em situações que você acaba de conhecer a pessoa e não possui elementos em comum para dialogar com fluência. No meu cotidiano, tenho notado que cada vez mais as pessoas tem adotado esse tipo de ferramenta para sobreviver nas interações sociais, uma pena. Daí, graças a esse vício, noites inteiras são regadas a conversas sobre o clima, sobre a umidade relativa do ar ou sobre banalidades irritantes da vida.
Obviamente tal comportamento se estendeu para as baladas. Dessa forma, não é raro você ter que enrolar num small talk de meia hora pra conseguir beijar a garota. A situaçào se agrava mais ainda se os interesses entre as pessoas são divergentes, tipo eu gosto de ouvir The Police e Genesis e ela gosta de escutar Fernando e Sorocaba no volume máximo. Sem pontos em comum, o casal acaba apelando pra frivolidades do cotidiano:
- Sabe, eu queria ganhar muito dinheiro e não trabalhar... - Rapaz
-Eu também...Não trabalhar seria ótimo... - Moça
-Mas, sabe, as coisas seriam muito mais fáceis... – Rapaz.
-Eu concordo. Seriam muitos mais fáceis... – Moça.
- Mas, então...Você curte sair na balada? – Rapaz.
-Eu gosto, mas não saio tanto... – Moça.
-Não, é? – Rapaz.
Como vocês podem notar, uma conexão não foi alcançada pelos pombinhos neste exemplo. É necessário ainda registrar que a moça utiliza a técnica de rapport para impulsionar o diálogo inexistente. O rapport, no caso, consiste em repetir a última coisa que o outro locutor falou, dando a falsa impressão que ambos interlocutores estão mantendo um diálogo coerente e fluído:
Exemplo:
-Puxa. O trânsito da cidade está caótico, né?
-Sim. O trânsito da cidade está muito caótico...
Com essas ferramentas infernais de interação social temos sido confrontados com verdadeiras relações sociais construídas inteiramente na base do small talk. O inevitável aconteceu, os small talkers se proliferaram como gremlins e não há nada que se possa fazer a respeito disso.
Um evento emblemático foi quando eu fui a uma pequena reunião de comemoração e os convidados só falavam de cadeiras confortáveis, bolos gostosos e comentários elogiosos sobre o buffet da festa.
Haja paciência!