CARIDADE s.f. (lat. caritas) sentimento ou ação altruísta de ajudar ao próximo SEM qualquer expectativa de obter algum tipo de recompensa.
Essa aventura ocorreu na bela cidade de Búzios, no litoral carioca e tudo parecia colaborar: mulheres bonitas e simpáticas; infra – estrutura de primeira (sim, isto é importante); seguranças gabaritados para coibir furões e pessoas excessivamente alteradas (também é importante, tudo vai melhorando o astral); e quarentinha de consumação que poderiam ser gastos em quatro doses de vodka.
A noite transcorria bem, mas o ambiente começara a ficar intransitável. Então descobrimos que uma parte externa da boate havia sido aberta. Poderia ser a solução para nossa falta de ar e, por que não, para facilitar o sempre complicado contato com o sexo oposto. Depois de um tempo sentados num dos sofás da bela varanda do local, constatamos a presença de um tronco de árvore cortado bem na rota de passagem das pessoas. Sim, um tronco de árvore cortado, com uma altura de uns 40 cm e um diâmetro de 1,5m. Volume suficiente para alguns tropeções e para uma idéia infeliz de uma pessoa alcoolizada.
Pensei: “Espera aí... tem um monte de gente tropeçando naquele pedaço de tronco de árvore. Por que não ajudá-los a desviar? Uma gatinha ainda pode cair no meu colo.” Genial? No máximo bestial. Em primeiro lugar pela definição de caridade (bad karma, diria nosso colega Malaquias) e depois porque se as pessoas desviassem do tronco, elas não tropeçariam e, consequentemente não viriam “direto pros meus braços” (acho que foi essa a expressão que eu usei na hora).
Muito bem, só falta contar a grande idéia para os amigos. Ainda me lembro da ansiedade de todos para colocar o plano em prática (eles também não foram capazes de juntar os pontinhos e chegar à conseqüência lógica do parágrafo anterior) e ao som de berros nos mais variados idiomas (bêbado poliglota é pleonasmo) parecia a entrada em campo de um time de futebol americano... formado por crianças de 10 anos, que saem correndo mas não conseguem rasgar a faixa com o nome do time na saída do vestiário, como manda a tradição.
Já em volta do pedaço de madeira, começamos: “Opaaa!! Cuidado com o tronco aí hein gatiiinhaaa... tudo bem com você”? (Imaginem por favor uma fala um pouco enrolada e um volume de voz um pouco mais alto do que o necessário para a pessoa que está a alguns centímetros de você ouça). Desnecessário dizer que não obtivemos êxito, exceto pelo fato de termos evitado vários acidentes.
Era tarde, e já não demonstrava tanto afinco na altruísta tarefa de evitar desastres com a parte de árvore no meio da boate. Mas continuávamos lá, de bobeira. Parecia que o final da noite não nos reservaria grandes emoções. Porém, não mais que de repente, um jovem, de cujas características não me recordo (guess why), veio com tudo pra cima do tronco. Adivinha quem estava lá para salvá-lo? O rapaz e o seu copo se salvaram, posso garantir. Já o conteúdo do copo, como numa cena de filme, voou em minha direção. Um banho de vodka! Depois de um breve pedido de desculpas, só ouvi gargalhadas... o último colega a parar de rir só o fez no meio da manhã seguinte.
* Denílson McLovin é consultor financeiro e escreve para o blog toda segunda-feira, exceto quando sua timidez impede que qualquer coisa interessante aconteça no fim de semana anterior.